Personas e Avatares: atualização de antigas práticas culturais
A criação de Personas e Avatares virtuais para aplicação em ambientes de inteligência artificial está diretamente relacionada à manipulação da imagem humana na cultura, e seu uso em diferentes canais e contextos não é tão recente e inédito quanto parece. Pesquisas indicam que esse tipo de manipulação tem ocorrido, mais expressivamente, desde os séculos XV e XVI; quando a imagem corporal humana começou a se tornar um produto visual para diferentes finalidades, a exemplo do que foi proposto pelas artes da Morfopsicologia e Fisiognomonia.
A proposta dessas práticas era vincular diferentes significados à face humana por meio de sua associação com formas geométricas e figuras de animais. Para isso foram criadas tipologias morfológicas e psicológicas, como também simbologias, que tinham por objetivo retratar, descrever e classificar características humanas, determinar padrões de beleza, e até mesmo a índole de uma pessoa. Ambas as práticas ganharam destaque pois foram amplamente difundidas como prática acadêmica e profissional, atraindo a atenção de filósofos e cientistas que buscavam decifrar e compreender tanto o comportamento quanto a personalidade humana.
Interessante observar que as relações propostas eram sempre entre homem e elementos da natureza, como por exemplo: animais e astros celestes. Assim, as significações para a imagem humana eram formuladas a partir do que era culturalmente possível, criando-se padrões e modelos psicológicos e comportamentais e associando-os à características de determinado animal ou planeta. Também eram feitas associações entre a imagem humana e funções de órgãos internos do corpo. A ideia era decifrar a personalidade e aptidões, ou falhas de caráter, por meio da relação entre determinado órgão e o comportamento do indivíduo. Daí derivou-se a noção difundida na cultura para os temperamentos e humores humanos.
Essa prática de classificação e padronização da imagem corporal humana se torna mais expressiva, e internacional, mais tarde, pela influência da fotografia e do cinema, pelo chamado Star System Hollywoodiano. Tal manipulação da imagem humana é resultado direto da muitas possibilidades resultantes do funcionamento da percepção e cognição humana. O mesmo processo é aplicado à criação de Personas e Avatares virtuais, cuja finalidade é representar uma marca, empresa ou produto na interação com o cliente humano. Da mesma forma que as artes e práticas descritas anteriormente, são atribuídos valores e associações entre a imagem física da Persona e Avatar, e suas possíveis características psicológicas, para serem capazes de incorporar e manifestar os atributos desejados de uma marca, por exemplo, com foco na percepção que o cliente terá e, em consequência, responderá nessa interação. Isso não só promoverá a humanização da marca, quanto a deixará mais tangível e próxima do cliente. O resultado será maior interação entre marca e seu público alvo e melhores práticas de comunicação, agregando valor à experiência do usuário.
Leandro de Loiola, Consultor de Produtos – Language Labs, na Mutant.